A própria ideia de "consumir" conteúdo, a ideologia do "rápido" e "fácil", vai tudo contra o hábito de pensar. Um ponto-chave pra entender esse movimento é a vigência da noção de "conteúdo". Hoje não se lê reportagens, não se ouve álbuns, não se assiste a filmes - "consome-se conteúdo".
Videos rápidos são controle.
E o que exatamente é conteúdo? É uma commodity cognitiva, em grande parte indiferenciada, que economicamente vale mais pela quantidade do que pela qualidade. Na lógica do conteúdo, um meme com milhões de cliques vale mais do que a obra inteira de Shakespeare, pois monetiza melhor.
Há uns anos tento reduzir a qtde de informação absorvida em busca de qualidade maior, seja na estética ou na profundidade, mas os últimos anos foram bem complicados haha. Penso que o livro A Máquina do Caos ajude a elucidar um pouco esse formato atroz das redes sociais e o conteúdo publicado nelas
A gente tá muito fodido, né, mestre? Vai chegar (ou já chegou) a um ponto em que ninguém se dedicará mais a tarefas/pesquisas de médio e longo prazo pq o condicionamento mental tá todo compartimentado pra recompensas curtas e sucessivas desde a infância...
Contéudo é celebridades em apuros, lacrando com gatos, reacts de Cazemiro, Brasil Paralelo, debates políticas sérias, e antigos vídeos de MTV, misturado e reduzido a uma gosma branda. Tudo igualmente válido como conteúdo. C, Wright Mills avisou disso no seu analise da ascendência do tablóide;
Cada vez mais gosto de ler o que você escreve. Parabéns meu camarada, vou continuar te acompanhando.
Sem falar que “consumir” alude a “comer”. As pessoas hoje dizem que “consomem” tal pessoa ou influencer. Teve uma vez que um cara me perguntou o Instagram e eu estava passando meu celular pra ele, falei que não tinha Instagram e a fala dele foi: “como eu vou saber que você existe?” Olha o sintoma
Eu falei isso lá em 2006, na época da blogosfera ainda, quando vi que a linguagem dominante passou a ser essa originada no marketing/capitalismo. Sempre achei um absurdo falarmos “conteúdo”. Nessa perspectiva, uma composição de Bach é “conteúdo” igual a um reel de influenciador.